O Parque Estadual da lha Anchieta é um local relativamente pouco conhecido. Como muitas das ilhas próximas à costa brasileira, foi a morada de tribos indígenas. Um dos mais emblemáticos líderes indígenas dos primeiros tempos de Brasil colônia, foi o cacique Cunhambebe que viveu na Ilha Anchieta nos seus últimos anos de vida. Só para se ter uma ideia do quanto o cara era poderoso, um dos seus prisioneiros mais famosos foi um alemão chamado Hans Staden, que escapou de ser literalmente comido pela nação tupinambá sabe se lá como. Hans Staden escreveu um livro contando essa história, onde revelou o ato do canibalismo dos índios brasileiros para os europeus. Uma outra história curiosa da Ilha é que em 1926 mandaram um grupo de russos para morar lá, porque não havia onde colocá-los. O resultado foi que os russos começaram a morrer por envenamento de uma mandioca.
Fachada do prédio da administração do PEIA
O diferencial da Ilha Anchieta é o patrimônio histórico-cultural. Na verdade ela está bem desfigurada, fruto do histórico de ocupações. Mesmo assim, vale a pena conhecê-la. As praias são lindas, a cor da água é deslumbrante, dá até para fazer um mergulho e tem também as trilhas. Algumas trilhas só podem ser percorridas com guias. Na verdade, as guias são muito tranquilas, a única que talvez seja considerada de alto grau de dificuldade é a da praia do Leste, mas esta trilha não é aberta para turistas. Nós fizemos esta trilha em 2004, quando ficamos uma semana na Ilha para a coleta de répteis, como parte do projeto Biota. Aliás, confesso que não foi nada agradável, porque voltamos com um monte de carrapatos espalhados por todo o corpo, ainda mais numa época em que apareceu um surto de febre maculosa, que é uma doença por bactéria transmitida pelo carrapato. Bom, felizmente não fomos infectados. Das trilhas abertas para a visitação, gosto particularmente da trilha da Praia do Sul porque existe um mirante no meio da caminhada em que você vê toda a enseada, sem dizer que o final da trilha você encontra a praia, que é muito aconchegante. Uma outra trilha que gosto é a do Saco Grande, que é um costão do outro lado da Ilha, voltado para o mar aberto, é um lugar lindo para contemplar o mar e ouvir o barulho das ondas chocando-se nas rochas, vale a pena.
Dona Dionea, uma das últimas testemunhas vivas da rebelião da década de 50.
O presídio da Ilha foi construído no início do século XX, acreditem, para abrigar bêbados e vagabundos, inimaginável não é mesmo? Pois bem, isso foi apenas no início; com o passar dos anos serviu de presídio político na Era Vargas e, logo após, presídio comum. Hoje, as histórias que são contadas do ocorrido no dia da rebelião viraram lendas. As histórias contadas pela Dona Dionea são incríveis. Uma sucessão de fatos e acontecimentos cruéis, dramáticos e acima de tudo, emocionantes. Na época ela era uma garotinha de apenas 7 anos, o seu pai era funcionário do presídio. Ela conta com detalhes a forma como seu pai de forma inteligente e desesperada fez para salvar a si próprio e à sua família dos presos rebelados. É de arrepiar!
Em 1955, o presídio foi extinto, sobraram somente as ruínas.
Em 1977 foi criado o Parque Estadual da Ilha Anchieta. Você vai encontrar muitos saguis, capivaras e quatis. Na verdade, eles foram introduzidos na Ilha na década de 80 e a sua população cresceu de forma desequilibrada, sendo que os quatis e os saguis sempre estão atrás dos biscoitos dos turistas. É lógico que não se deve alimentar estes animais, mas "on the other hand", eles estão passando fome; da última vez que estivemos lá eles estavam magros, revirando o lixo e até atacando a sacola de alguns desavisados. É uma questão que fica em aberto, pois não se deve incentivar alimentá-los, assim como eles estão num ambiente geograficamente limitado e foram introduzidos, ou seja, a culpa não é deles.
Quati
Tatu
Capivaras, motivo pelo qual sentar-se na grama por causa dos carrapatos.
Centro de Visitantes
Praia do Sul
Área para crianças.
Saco Grande
Para ir até a Ilha Anchieta o ideal é se hospedar próximo ao Saco da Ribeira e há um local em que você irá se sentir em casa. Na Praia da Enseada, depois do píer, há um Hotel chamado Enseada, distante uns 200 metros da praia. O proprietário é o Sr João, um paizão para os hóspedes. Como valoriza muito o estudo, ele dá descontos para grupos de estudantes e pode ser considerado "expert" em hospitalidade.
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